Quilombo Santa Rita do Bracuí

Projetos em parceria

Existir enquanto comunidade quilombola até os dias de hoje é sinônimo de muita luta e resistência pela manutenção do território e fortalecimento da cultura negra. O caso da comunidade quilombola Santa Rita do Bracuí, em Angra dos Reis – RJ, não é diferente. A comunidade ainda reivindica a titulação definitiva das terras embora, em 1999, tenha sido oficialmente reconhecida pela Fundação Cultural Palmares enquanto remanescente de quilombolas.

As terras foram doadas através de testamento, em 1877, pelo Comendador José Joaquim de Souza Breves aos descendentes de pessoas escravizadas na Fazenda Santa Rita. Os conflitos fundiários vivenciados entre grileiros de terras e os herdeiros da fazenda se intensificaram após a construção da Rodovia Rio-Santos, na década de 1970, e resultaram na divisão da Fazenda e a perda de grande parte do território quilombola para o Condomínio Porto Marina Bracuhy.

A SAPÊ, através da sua parceria histórica com o Grupo de Consciência Negra Ylá Dudu, de Angra dos Reis, foi se aproximando da luta do Quilombo. Em 2004, a coordenação do projeto Conhecer para Preservar (*) destinou metade das vagas da primeira turma do curso de educação ambiental para jovens indicados pela comunidade. Com o passar do tempo as relações entre a SAPÊ e a ARQUISABRA (Associação de Remanescentes do Quilombo Santa Rita do Bracuí) foram se estreitando e culminaram com a co-realização de diversos projetos. 

Em 2006, realizamos o projeto “Pelos Caminhos do Jongo” financiado através da parceria BrazilFoundation / Cia. Vale do Rio Doce. O projeto coordenado pelo Ylá Dudu, em sintonia com a comunidade dos Remanescentes do Quilombo Santa Rita do Bracuí, rendeu o Prêmio de Manifestação Tradicional do Programa Cultura Viva nos bons tempos do Ministério da Cultura em 2007. Isso foi possível  através da  consolidação  da  iniciativa de valorização dessa tradição cultural junto aos jovens da comunidade, quando estava ficando restrita somente às pessoas mais idosas. 


Essa movimentação levou a uma nova iniciativa: “Angra dos Reis: Caminhos do jongo, núcleos de convivência e produção” formado por dois outros projetos: “Capacitação da Comunidade Quilombola do Santa Rita do Bracuí em práticas  agroflorestais, ecoturismo e artesanato”, realizado em 2006; e o projeto “Casa de Estuque”, realizado no período entre 2008 e 2009 ,apoiados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e a Fundação Banco do Brasil. Ambos os projetos foram realizados com a coordenação conjunta da SAPÊ, Grupo de Consciência Negra Ylá Dudu e da, recém fundada, ARQUISABRA.

O projeto de capacitação realizou um diagnóstico e mobilização inicial e promoveu capacitações na produção de artesanato com produtos locais, na agroecologia e operação de trilhas ecológicas e históricas visando valorizar o caráter rural e ambiental da comunidade e apontar alternativas de renda aos moradores, principalmente os mais jovens. Também fortaleceu a referência cultural da comunidade através de oficinas de percussão e capoeira Angola. 

O projeto “Casa de Estuque” mobilizou grande esforço da comunidade em todas as etapas. Foi construído um amplo prédio circular com telhas de barro e salas de apoio. Infelizmente, a estrutura do telhado arriou e, tempos depois, a construção teve de ser desfeita. O insucesso da construção ocorreu em função de diversas razões associadas, entre elas, ao baixo orçamento e à ausência de outros apoios institucionais locais.  

Apesar da frustração causada, as iniciativas fortaleceram a organização comunitária e promoveram intensa capacitação em gestão para suas lideranças que executaram os projetos, de formação para seus jovens e, principalmente, colaborou para recolocar o Jongo como atividade cultural de referência na comunidade, sendo visto como diferencial para o turismo de base comunitária e como fonte de renda quando levado para apresentações comerciais fora dela.