No período de junho a dezembro de 2021, diversas instituições e movimentos sociais se reuniram na realização do Ciclo de Diálogos “Um Futuro Justo e Sustentável para Angra dos Reis”. Em plena pandemia, foi uma estratégia de resistência, mobilização e enfrentamento à condução da Revisão do Plano Diretor que não incorporava os movimentos sociais e ao contexto de flexibilização da legislação ambiental. Nossos objetivos eram:
Apesar de todos os pesares, o cenário atual nos convida à mobilização. Neste momento em que enfrentamos tantas dificuldades, pensar a cidade torna-se ainda mais importante. Na impossibilidade de nos encontrarmos presencialmente nas ruas e nos espaços públicos, ocupamos as redes, fazendo bom uso das tecnologias de informação e de comunicação. Foram organizadas mesas de debate com pesquisadores, técnicos e lideranças sociais em cinco áreas temáticas:
Os diálogos ocorreram quinzenalmente, totalizando quatorze seminários, disponíveis no canal do YouTube do Instituto de Educação da Universidade Federal Fluminense na cidade de Angra dos Reis (UFF-IEAR).
Para promover a atividade, foi montada uma campanha de Financiamento Coletivo com o objetivo de fortalecer as ações de comunicação. Em outubro de 2021, conseguiu-se apoio financeiro do Fundo Casa Socioambiental. O projeto aprovado teve como objetivo ampliar e estruturar a comunicação dos debates que estavam em andamento; realizar uma capacitação em comunicação popular integrando as diversas instituições e movimentos organizadores; além de sistematizar os debates realizados ao longo de 2021.
Os debates trazem reflexões, propostas e horizontes de futuros possíveis. A realização do Ciclo de Diálogos nos permitiu manter a articulação e troca de informações entre diferentes segmentos sociais, além de avançar no debate das questões centrais da organização e planejamento para o município. Uma contribuição para a reflexão coletiva sobre o viver em sociedade a partir de uma interação que pode ser harmoniosa com o meio; para a consolidação de outros espaços do fazer-política; valorizando a fala de diversos atores sociais importantes somada a contribuição de moradores da cidade, da região e mesmo de outras localidades interessadas.
Objetivo: Abordar de forma sucinta as principais pautas que motivaram a articulação destas atividades de diálogos e os desafios para alcançar um futuro sustentável e justo para o nosso município.
Síntese: A mesa inaugural do Ciclo de Diálogos faz um panorama de questões que atravessam nossa cidade a partir dos cinco eixos temáticos traçados para os debates. Angra dos Reis é um município com grande patrimônio ambiental e cultural que, no entanto, tem grandes áreas de exclusão, de violência e de risco de desastres ambientais. É a capital náutica do país e, com a consolidação de um turismo segregador, está repleta de praias exclusivas e ilhas particulares. Tem um PIB milionário, mas menos da metade do município tem saneamento básico e 40% da população vive em área de risco. Fundada por conflitos fundiários, tirou de comunidades tradicionais e rurais o acesso ao mar e, com isso, a pesca como base integrante da sua alimentação e modo de vida. O Ciclo nos convida a sonhar para além das estruturas atuais que nos aprisionam, que priorizam o capital em detrimento do bem viver da população. Nos convida a refletir sobre os processos que constituem e fazem dessa linda cidade tão injusta e desigual, pautando tão pouco a vida cotidiana dos que a habitam.
Moderação: Nathalia Lacerda (SAPÊ) e José Renato Sant’Anna Porto (IEAR/UFF).
Momento Cultural: Marilda Francisco
Objetivo: Discutir os históricos da questão fundiária e as lutas em defesa da posse da terra no litoral sul-fluminense.
Síntese: Nos aproximamos dos panoramas gerais e locais, das leis em seus mais diversos âmbitos e da história da divisão injusta da terra no nosso território. A professora Leonilde fez um resgate histórico dos conflitos fundiários no estado do Rio destacando os processos de expropriação vividos na Baía da Ilha Grande e a constituição histórica da propriedade por processos de grilagem. O professor e advogado Rafael Mendonça, após refletir sobre a relação entre a propriedade, a concentração de terras e os assentamentos informais, discute sobre a Lei Federal 13.465/2017, a “Nova Lei de Terras”. Ela legitima o direito à moradia como objeto de especulação, mudando a regularização fundiária que tinha como bandeira a moradia digna e a função social da propriedade. Ranieri Eliziário discute o Decreto Municipal 12.000/21 que regulamenta a Lei 13.465/2017. Tal decreto traz vantagens à especulação imobiliária, fragiliza o espaço rural e, com a Lei, cria o risco de regularização de loteamentos clandestinos. Além disso, sua implementação não vem sanar o enorme déficit de regularização fundiária que afeta a organização social e espacial da população.
Moderação: José Marcos Castilho (ex-prefeito) e Felipe
Objetivo: Refletir sobre as formas de representatividade através de políticas públicas direcionadas à população e seus territórios partindo da elaboração do Plano Diretor.
Síntese: O professor Michael Chetry faz um histórico dos Planos Diretores no Brasil e da aprovação do Estatuto da Cidade refletindo sobre seus limites e potencialidades. Aponta a importância da participação popular na construção de Planos Diretores que orientem o desenvolvimento de uma cidade mais justa. O arquiteto e urbanista Cássio Veloso fez um panorama do Plano Diretor na cidade de Angra dos Reis. Das iniciativas anteriores de planejamento urbano, dos interesses que representaram e do processo ocorrido no início dos anos 90 que resultou num primeiro Plano Diretor com forte participação social. Por fim, a ambientalista e pedagoga Maria José relembra a efervescência de quando surgiram as associações de moradores. O Conselho Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (CMUMA) já foi um espaço interessante de disputa, nele já tivemos muitas derrotas e importantes conquistas. Problematiza a atuação do CMUMA, que aprova projetos, mas não discute urbanismo para a construção de uma cidade agradável, com praças e saneamento. E convida a sonhar com a cidade que queremos: “Vocês já imaginaram a cidade toda saneada? Já imaginaram a praia do Anil bonita e limpa?”. A discussão demonstrou a grande pressão sobre as áreas protegidas, seja nas propostas de revisão da APA Tamoios ou mesmo nas frequentes revisões do Plano Diretor visando atender interesses particulares.
Moderação: Nadir Moreira (CAU) e Fabiana Ramos (FCT)
Momento Cultural: Cida dos Remédios
Objetivo: Debater os desafios da gestão territorial e a trajetória de implantação das UCs à luz da atuação da sociedade civil.
Síntese: O analista ambiental do ICMBio Carlos Felipe fala sobre as UCs e o contexto em que o território está inserido, discutindo a relação entre poder, direito ao espaço, direitos territoriais dos povos tradicionais e preservação do meio ambiente. Apresenta a revisão e implementação participativa do plano de manejo da APA Cairuçu, destacando a importância das comunidades locais nesse processo. O professor José Renato analisa as políticas em torno das UCs, o contexto nacional e dados das UCs presentes na Baía da Ilha Grande. Apresenta uma proposta de agenda para as UCs e convida a pensar em novas estratégias. O ambientalista Ivan Neves ressalta a importância dos moradores conhecerem esse território e a partir disso apresenta as UCs de Angra dos Reis, a nível municipal, estadual e federal. Por fim, enfatiza o debate na APA de Tamoios e os riscos presentes diante das flexibilizações e do desmonte da política ambiental do país.
Objetivo: Debater a relação entre eventos extremos, políticas públicas para gestão de riscos e o papel da mobilização comunitária no enfrentamento aos desastres ambientais.
Síntese: Bruno Marques relata a experiência vivida na tragédia de 2009/2010 em Angra dos Reis. O acontecimento não foi exatamente uma surpresa, os riscos já haviam sido apontados em trabalhos e, além disso, a cidade possui um histórico de chuvas intensas que detonam deslizamentos. Moradias em áreas de risco são um problema antigo em Angra, que se relaciona com o processo histórico de ocupação das encostas, em grande parte fruto da pressão imobiliária pelos supostos proprietários de que promoveram a expulsão de famílias posseiras originárias. Cita a tragédia ocorrida em 2002, que provocou muitas vítimas no bairro Areal. E frisa que as indenizações são sempre insuficientes. A professora Ana Luiza faz uma apresentação sobre deslizamentos e redução dos riscos de desastres: um fenômeno antigo e um desafio permanente em Angra dos Reis. A vulnerabilidade é a dimensão humana do desastre. Por um lado, existem muitas soluções técnicas preventivas, por outro, projetos turísticos e industriais aumentam a pressão sobre os ecossistemas. O professor Anderson Sato propôs maior engajamento social visando reduzir o desamparo social provocado pelas tragédias e a necessidade de realizar a requalificação dessas áreas de riscos. São milhares de pessoas que vivem nessa situação e removê-las não é a solução. Os desastres são indicadores de insustentabilidade, estão relacionados com injustiças socioambientais e são socialmente construídos. Propõe dois caminhos a serem percorridos para lidar com esses desafios: a Governança Popular, em que os processos de tomadas de decisão funcionem com mobilização social; e pensar em uma economia que seja Solidária e Regenerativa, as políticas públicas e uma economia que atendem interesses econômicos acima de questões sociais e ambientais que produziram esse cenário de insustentabilidade em que vivemos.
Objetivo: Debater sobre os mecanismos de segregação e apropriação privada da natureza por trás da ideia de desenvolvimento no município, o aprofundamento da vulnerabilidade em áreas de risco a deslizamentos e a importância de políticas de habitação que garantam o direito à moradia assegurado pela Constituição Federal.
Síntese: Embora garantido pela Constituição Federal, na prática o direito à moradia não é respeitado e muitas pessoas vivem em condições precárias. A professora Mariana Trotta ressalta que existem normativas internacionais e nacionais que tratam do direito à moradia adequada. A Lei 13.465/2017 de regularização fundiária aumentou a insegurança da posse em um país que vive o contexto de ter 19 bilhões de pessoas passando fome. Sob uma ótica mercantilista aliada ao sistema financeiro, o direito à moradia está configurado e alinhado à lógica de distribuição de riqueza, tornando-se mais um mecanismo de segregação no lugar de, segundo a Constituição, um direito social. Nadir Moreira contextualiza o direito à moradia no âmbito municipal. Apresenta a Lei Orgânica de Angra dos Reis, que foi atualizada em 1998 e ressalta a importância do Plano Diretor e do Estatuto da Cidade: uma caixa de ferramentas para termos novas possibilidades de transformação e pensar numa cidade inclusiva. Nathalia Lacerda em sua exposição apresentou a convergência entre processos de privatização do ambiente e a expansão de áreas de riscos. Ela provoca que os problemas de falta de moradia ou a ocorrência de desastres não são fruto da falta de planejamento e de leis ou problemas relacionados com vontade política. São resultado da ação de agentes privatistas que pensam a cidade como uma mercadoria, um ativo a ser vendido. Angra dos Reis tem 200.000 habitantes, dos quais 40% vivem em área de risco e 36% vivem em área de favela. A privatização dos espaços públicos tem acentuado a desigualdade sócio-espacial e exposto a população mais vulnerável à tragédias anunciadas.
Objetivo: Discutir o contexto atual das políticas de privatização dos recursos hídricos no Brasil e seus impactos para a população. O novo marco legal do Saneamento acentuou a vulnerabilidade do grande número de famílias que não têm acesso adequado ao saneamento básico e à água potável.
Síntese: Vicente Andreu Guillo, ex-presidente da Agência Nacional de Água e com grande experiência na área de recursos hídricos, apresentou o contexto da privatização da água em seu panorama nacional. Citou as ondas de privatização das estatais responsáveis pelo abastecimento hídrico e elétrico a um projeto do Governo Federal que aliena a água como um recurso para geração de lucros e concentração de riqueza por parte de algumas poucas grandes corporações. Após um breve panorama sobre a questão da água e os sistemas de águas existentes no Brasil, foram expostas as diferenças entre os recursos hídricos e o sistema de saneamento. O modelo de privatização da CEDAE foi discutido chamando atenção para a nova situação da prestação de serviços e a questão da regulação, o que causará impactos à população. A Professora Ana Lúcia Britto nos aproximou desta realidade num contexto regional, onde através da privatização da CEDAE pôde-se analisar o alinhamento desta política refletida na escala estadual. O Novo Marco do Saneamento abriu a torneira para as iniciativas privadas terem seus projetos atendidos, limitando ainda mais o acesso ao saneamento básico amplo e universal. Por último, Vitor Lisboa Santos apresentou o panorama de Angra dos Reis e a gestão dos recursos hídricos na região. Mesmo na Baía da Ilha Grande, reconhecida como uma região chuvosa com presença de florestas e manguezais que cumprem relevante papel na regulação das águas, são crescentes os conflitos e os desafios ambientais para prover água limpa e para todos, em especial para os grupos sociais mais pobres e vulneráveis. Esta condição foi agravada historicamente pela falta de um planejamento que racionalizasse os recursos hídricos de maneira justa entre a população urbana e os grandes resorts e condomínios. Foi apresentado ainda um relato sobre a questão hidrográfica da cidade de Angra dos Reis, abordando as captações de água da cidade e as estações de tratamento de esgoto, com destaque para atuação do Comitê de Bacia Hidrográfica da Baía da Ilha Grande. O tema da governança relacionada ao Plano de Gestão dos Recursos Hídricos e a contratação da revisão do Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB) dos municípios de Angra dos Reis e Paraty, foram outros assuntos abordados.
Objetivo: Refletir sobre a importância da cultura e dos povos tradicionais na defesa do patrimônio cultural e no projeto de cidade que queremos.
Síntese: Os convidados trouxeram a sua vivência na manutenção da cultura, nos territórios onde vivem. O conceito do “defeso cultural” foi abordado pelo músico e compositor Luís Perequê, sobretudo em contextos de lugares com forte atividade turística, como a cidade de Paraty. A experiência do grupo de teatro Revolucena foi trazida como elemento importante na luta pela preservação de prédios históricos no centro de Angra dos Reis. E o representante indígena abordou como a chegada de grandes empreendimentos econômicos contribuem para o esquecimento dos povos e comunidades tradicionais da região da Baía da Ilha Grande e do Brasil.
Objetivo: Enfatizar outras economias potentes no territórios, que se organizam de forma comunitária, em rede e ambientalmente sustentáveis
Síntese: Na região sul-fluminense estão localizados alguns agentes que se organizam em torno de uma economia de base comunitária, em rede e de forma sustentável. Essa disposição contribui para a manutenção de territórios saudáveis, numa luta política em contraste ao projeto econômico dado pelas gestões municipais. A partir da fala de dois moradores, de Trindade em Paraty, e da vila do Abraão na Ilha Grande, Angra dos Reis respectivamente foram abordadas as possibilidades de existência nessas comunidades. Robson Possidônio, caiçara da vila de Trindade, abordou a importância da pesca artesanal para as comunidades tradicionais e o respeito com o meio ambiente, turismo de base comunitária, luta pela permanência em seus territórios e suas formas de economia. Mostrando pontos importantes de vivências no seu território. Tatiana Mariana Brito, professora da vila do Abraão e moradora da Ilha Grande, abordou a questão da permanência dentro do território como estratégia de reconhecimento e fortalecimento da cultura caiçara na Ilha Grande. A professora Rosane Prado destacou o perigo do projeto Cancún para a região de Paraty, Angra e Ilha Grande, sobretudo para a cultura caiçara. Reforçou a partir das falas anteriores sobre o sentimento de pertencimento e das lutas pela permanência no território, a importância da identidade cultural desses povos, a força dos seus modos de vida e o cultivo dessa identidade para esses territórios.
Objetivo: Apresentar alguns dos diversos usos que o ambiente marinho proporciona e refletir sobre a necessidade de compatibilizá-los para manutenção de sua biodiversidade. Pensar nos impactos marinhos como menos visíveis e mais desafiadores.
Síntese: O professor Carlos Marclei apresenta dados sobre os processos de poluição entorno da Baía da Ilha Grande, destacando principalmente a falta de tratamento de esgoto, que aliado ao acúmulo de resíduos sólidos de forma desordenada, prejudicam os ecossistemas locais, águas e solos, agravando a questão sanitária principalmente a população às margens dos centros urbanos. A mergulhadora e bióloga Carolina Corrêa, mostra a relação e importância dos Peixes como indicadores de impactos dos seres humanos nos ambientes marinhos. O aumento progressivo de atividade humana, seja em desenvolvimento urbano, dragagem de canais ou turismo e pesca, modificam gradativamente os ecossistemas marinhos, podendo levar à diminuição na riqueza e abundância dos peixes. Jorge Dodinho, vice-presidente da Colônia de Pesca Z-17 e presidente da Associação de Pescadores Artesanais da Praia Vermelha, relata os impactos relacionados ao turismo, ao consumo predatório e também das atividades industriais na Baía da Ilha Grande. A exploração através da pesca industrial tem levado a extinção de espécies marinhas, sendo um fenômeno que preocupa tanto pescadores como ambientalistas, causando grandes impactos ambientais e econômicos na região.
Objetivo: Discutir sobre a relação entre a prática social do turismo; o processo de mercantilização do espaço e da cultura; e a consolidação de um modelo privatista. Apresentar lutas pelo direito à praia e ao território na região iluminando desafios e horizontes de reapropriação da natureza.
Síntese: A Baía da Ilha Grande é marcada pelo avanço do turismo predatório e da privatização de seu litoral por condomínios, mansões de luxo e grandes hotéis. Os impactos cumulativos podem ser sentidos na perda de opções de áreas comuns de lazer para a população local e na dificuldade em se pensar o turismo a partir de outra lógica, que respeite o meio ambiente local e as comunidades tradicionais que habitam o litoral em Angra dos Reis e Paraty. Para isso, esses três convidados ampliarão o conhecimento através de mais um diálogo. A professora Rita Cruz apresentou a transformação histórica do turismo e o fenômeno, do século XX, do turismo de massa. A natureza e a cultura viram mercadoria e, do desejo de tempo livre, há uma cooptação pelo tempo de consumo. É um modelo fordista (em massa), elitista e burguês (social e espacialmente seletivo), privatista (especializando o uso) e segregacionista (separando turistas e moradores). Irene Ribeiro destacou as lutas pelo direito à praia contra os processos de privatização que se consolidaram em Angra dos Reis. Ela traz um pouco do histórico de consolidação de um turismo excludente em um município que é, ao mesmo tempo, industrial, com diversas UCs e comunidades rurais e tradicionais. As desigualdades vividas em Angra dos Reis estão materializadas no espaço produzido. Os dados sobre a privatização de praias são alarmantes, uma realidade institucionalizada que vai de encontro às diversas leis existentes. Muitas praias que frequentamos um dia já foram privatizadas, pela mobilização social que a realidade não é pior. E ainda temos muitas praias por abrir. O caiçara Jadson dos Santos trouxe a resistência da comunidade da praia do Sono à grilagem, expropriação de terras desde a abertura da rodovia Rio-Santos. Historicamente foram negados os direitos dos povos caiçaras e sempre tiveram que lutar para permanecer em seu território. A APA Cairuçu não conseguiu assegurar o direito ao território, mais contemplado com a criação da Reserva Ecológica da Joatinga. Fala dos conflitos com o Condomínio que privatiza cinco praias e viola diversos direitos da comunidade. Reflete sobre os desafios de se manter comunidade tradicional e da importância de articulação frente às pressões econômicas e políticas atuais.
Objetivo: Debater como a atividade exploratória do Pré Sal na Bacia de Santos tem aumentado os impactos da indústria petroleira sobre o ambiente e as comunidades costeiras e, particularmente, sobre pescadores.
Síntese: Os impactos da indústria de petróleo e gás dão-se, fundamentalmente, através do trânsito de embarcações e áreas de fundeio. Pequenos vazamentos mais frequentes ou grandes vazamentos potenciais são uma ameaça, bem como a ocupação de costeiras para suporte dessas atividades em terra. Recentemente o licenciamento do Campo de Bacalhau pela empresa norueguesa EQUINOR gerou uma grande mobilização de pescadores e comunidades da Baía de Ilha Grande, Sepetiba, e Mangaratiba que não foram nem mesmo considerados nos Estudos de Impacto Ambiental. Cassiane Vitória compartilhou sua vivência na Ilha Grande com impactos da indústria de petróleo e gás e sobre a importância da luta coletiva. Relata o reconhecimento dos riscos para os moradores e pescadores, a identificação do aumento da escassez do pescado ao longo dos anos; a falta de fiscalização e de diálogo sobre essas atividades exploratórias e seus impactos nos modos de vida, trabalho e renda. Rafael Ribeiro trata do processo de licenciamento do Campo de Bacalhau pela empresa norueguesa EQUINOR. Ressalta a pertinência do tema e apresenta a nota elaborada pelos movimentos sociais sobre o processos de licenciamento e suas inconsistências, como a exclusão da Baía de Sepetiba como área impactada e a celeridade do processo, interditando o debate público. Necessidade de diálogo e estudos aprofundados para propor medidas de compensação, além do fortalecimento das unidades de conservação e investimentos para pesquisas e para comunidades pesqueiras. Lara Legaspe explica sobre o processo de licenciamento ambiental, monitoramento do pré-sal e experiência com a APA Marinha do Litoral Norte. Apresenta a gestão da APA Marinha Litoral Norte, explicando seu processo de funcionamento, área de abrangência, construção do plano de manejo, mostrando também algumas de suas ações. Ressalta o surgimento dos novos desafios com a quebra do monopólio de exploração com empresas de capital estrangeiro, e a importância da organização dos territórios para o recebimento dos estudos de impactos ambientais, preservação dessas áreas e permanência desses povos.
Objetivo: Discutir como o debate sobre violência no Brasil é indissociável das intersecções entre gênero e raça.
Síntese: O Brasil é um dos países do mundo com maiores índices de mortes cometidas pelas polícias, sobretudo contra jovens negros. Como ocorre com outras agendas nacionais, estes problemas atravessam a realidade da região da Baía da Ilha Grande, composta por alguns dos municípios com as mais altas taxas de homicídios do estado e com incidências preocupantes de violências de gênero. Jaqueline Máximo fala sobre sua trajetória pessoal no movimento negro, a importância dos movimentos sociais e da discussão da temática racial para Angra dos Reis. Denuncia as condições que promovem sofrimento da população preta, e como estado de direito traz práticas racistas, com políticas ineficazes mesmo após abolição. Januária Moreira aborda a violência contra as mulheres e apresenta o processo de construção do núcleo feminino de apoio às mulheres vítimas de violência em Paraty. Ressalta a importância de reivindicar políticas públicas e construir espaços de promoção de diálogo entre as mulheres com segurança e acolhimento. Apresenta dados quantitativos de feminicídios, da falta de respostas pela justiça e a pouca resolutividade dos casos, bem como a baixa comoção social em torno de alguns casos, evidenciando as assimetrias sociais historicamente determinadas como raça e classe, no tratamento das ocorrências. O professor André Rodrigues divulgou o boletim semestral de seu grupo de pesquisa com dados de violência na Baía da Ilha Grande, diferenciando as várias formas de seu exercício, e de como esses territórios não são violentos e sim violentados . Faz uma síntese sobre o processo de violência no Brasil e destaca a prevalência de vítimas pretas e pardas, com um panorama geral desses números por município, ressaltando os altos índices na região.
Objetivo: Reunir as instituições organizadoras do Ciclo para um balanço das atividades. A partir de nossos objetivos iniciais e da contribuição de antigos e novos parceiros de caminhada, discutir os horizontes propostos para alcançarmos um futuro mais justo e harmonioso para nossa região.
Síntese: Nesta atividade de encerramento do Ciclo de Diálogos foi feito um balanço de todos os seminários ocorridos e das perspectivas que apontaram em direção a um futuro mais justo e sustentável. Desde junho, quando teve o Diálogo Inaugural, foi trilhado uma longa jornada de seminários quinzenais, percorrendo diferentes temas que afetam diretamente os territórios e populações de Angra dos Reis, Paraty e Mangaratiba. A atividade final teve como convidados para abertura, José Renato (Diretor UFF/ IEAR) e Rafael Ribeiro (SAPÊ). Para avaliação os convidados foram, Mauro Nask (Cia da Lua), Nadir Moreira (CAU/RJ), Amanda Hadama (IPEMAR), Fabiana Ramos (FCT), Marilda Souza (ARQUISABRA), César Américo (ACTA), Thereza Dantas (Baía Viva), Gelson Rozentino (Ecomuseu/ UERJ), e para moderação José Marcos Castilho (Ex prefeito de Angra) e José Vitor Sant’ana (Geografia/UFF). De junho a dezembro, comunidades tradicionais, fóruns, coletivos, entidades, instituições, movimentos sociais, professores, pesquisadores e toda sociedade civil se encontraram para pôr à mesa a discussão de que Angra, Paraty, Ilha Grande e Mangaratiba seriam possíveis serem construídas através de alternativas justas e sustentáveis. Processo que se tornou ainda mais desafiador quando atrelado ao momento sombrio, de crise social e política que é enfrentado de maneira ampla, ainda mais perverso nos interiores, sendo Angra dos Reis a cidade com a quarta polícia que mais mata no Brasil. Apesar das dificuldades, foi cumprida a ideia central de reaproximar territórios e vozes que nunca se silenciaram, mas devido às circunstâncias se distanciaram. Finalmente, alcançamos outras vozes e territórios que naturalmente se incorporaram ao Ciclo e trouxeram novas experiências capazes de aprofundar nosso conhecimento sobre a região sul-fluminense.
A aprovação do projeto “Diálogos para garantir um futuro justo e sustentável: ampliar a capacidade de comunicação e articulação como estratégia de resistência social” contribuiu para fortalecer a comunicação dos Ciclos de Diálogos, com o desafio de romper os algorítmos e atingir mais pessoas em assuntos tão pertinentes ao futuro de nosso município e região. Nesse sentido, as diversas participações em programas de rádio como no “TalkShow”, da Rádio Costa Azul, e na rádio Costa do Sol de Mambucaba contribuíram para levar os temas para um público mais amplo nos encontros virtuais.
A capacitação em Comunicação Popular e Midiativismo foi dividida em dois módulos: Linguagem e Introdução à Comunicação, conduzida pelo jornalista e comunicador popular Tiago Alves Pereira; e Ferramentas para a criação de Conteúdos, ministrada pela jornalista Déborah Arco. A capacitação contribuiu na formação de integrantes de organizações sociais em ferramentas comunicacionais cada vez mais importantes para a intervenção política.
Em 2022 esse processo de reflexão prosseguiu com a realização de uma oficina sobre propostas para a questão da regularização fundiárias no campus de Jacuecanga do IEAR/UFF. E deverá retornar em breve quando a Prefeitura de Angra dos Reis resolver fazer séria e responsavelmente a Revisão do Plano Diretor Municipal iniciada em 2017.
Nathália Lacerda
José Victor Santana
Deborah Arco
Tiago Alves Pereira
Joanna Martins Ferreira
Diego Guimarães Rosa
Inês Chada
Irene Ribeiro
R$ 33.000,00
Outubro de 2021 à Outubro de 2022
SAPÊ
Instituto de Educação de Angra dos Reis da Universidade Federal Fluminense (IEAR/UFF)
Fórum de Comunidades Tradicionais de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba (FCT)
Associação de Remanescente do Quilombo de Santa Rita do Bracuí (ARQUISABRA)
Instituto de Pesquisas Marinhas, Arquitetura e Recursos Renováveis (IPEMAR)
Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Estado do Rio de Janeiro e do Brasil – CAU-RJ/CAU-BR
Liga Cultural Afro-Brasileira
Cia da Lua – Grupo Teatral
Associação Carioca de Turismo de Aventura
Movimento Baía VivaIrene RibeiroInês Chada
Ecomuseu da Ilha Grande
Fundo Socioambiental CASA
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