O fechamento de praias e desvios de trilhas também acontecem nas ilhas de Angra dos Reis, onde as maiores são a Ilha da Gipóia e a Ilha Grande. Essas alterações ocorrem para promover o cerceamento do acesso às praias e costeiras ocupadas por estabelecimentos “privativos”. Ao desrespeitar as antigas servidões de uso público, muitas vezes centenárias, moradores e visitantes são obrigados a caminhar por terrenos íngremes, alto dos morros e pirambeiras, ao invés dos caminhos pela praia à beira mar. A SAPÊ vem atuando tanto para impedir grandes projetos turístico-imobiliários que, historicamente, expropriam e privatizam o espaço; como para garantir o direito das comunidades, turistas e população em geral de usufruir das praias e trilhas do nosso município.
A Ilha da Gipóia sofreu grande expulsão de seus moradores e hoje está quase completamente ocupada por residências de luxo. Já a Ilha Grande ainda mantém diversas comunidades povoadas, populações caiçaras, praias protegidas por unidade de conservação de proteção integral; todas elas submetidas a pressão privatista.
Embora, a princípio , seja possível chegar de barco em qualquer praia, muitas vezes é preferível acessá-la através de outra praia próxima, de melhor localização, para chegar ao destino desejado, principalmente quando são praias de mar aberto. Entretanto, a fim de se consolidar praias exclusivas, muitas trilhas são objeto de desvio por parte de proprietários particulares. Outra estratégia é a colocação de bóias de falsos cultivos de mexilhão, evitando que escunas e embarcações cheguem até a praia
Durante as comemorações da Semana do Meio Ambiente de 2001 a SAPÊ promoveu o protesto no mar denominado “A Gipóia pede passagem”. Fechando com embarcações o canal entre a Ponta do Afonso, no continente, e a Ponta das Canoas, na ilha da Gipóia, os manifestantes reclamavam das construções irregulares e do fechamento de praias e caminhos. Outra luta histórica, ainda sem vitória, é o fechamento da trilha de acesso à praia da Amendoeira – lindíssima e muito utilizada por surfistas – pela praia do Saco do Engenho. Por duas vezes, na década de 90, promovemos atividades solicitando a abertura dessa trilha. Na primeira vez, seguimos pela trilha original,plana e fácil de 15 min de duração. Na segunda oportunidade fomos obrigados a encarar a trilha desviada e improvisada costeira acima que termina em local de difícil acesso. Depois disso, houve novo desvio dificultando ainda mais o acesso. Hoje, para chegar à praia da Amendoeira por trilha é preciso gastar quase uma hora subindo e descendo o morro.
Em 2017, realizamos, junto com a Associação de Moradores da Ilha da Gipóia, outra atividade contra o desvio de mais um caminho tradicional. Durante a ampliação de uma antiga casa na Praia do Peixoto foi construída uma longa escadaria com passarela contornando os fundos da residência. Ao final da praia foi instalado um portão com cadeado e uma placa orientando o “novo” caminho morro acima. Todo esse investimento para desviar a trilha, que desde sempre passou a beira mar, visava privatizar a praia. Tal alteração foi autorizada pela prefeitura, embora o Decreto Municipal N° 5.299 de 18 de maio de 2007 que instituiu a servidão pública nas trilhas da Ilha da Gipóia preveja que “a modificação de traçado ou dimensões das trilhas (…) só serão permitidas quando objetivarem melhorias para os pedestres usuários, ouvidas as comunidades envolvidas”.
Na Ilha Grande, além de diversas ações junto ao Ministério Público protocoladas pela SAPÊ, CODIG e outras organizações contra o desvio de trilhas e privatização de praias, fizemos uma atividade histórica contra o cercamento do caminho entre a praia de Freguesia de Santana e a praia de Baixo. Esse fechamento impedia o acesso à Igreja Freguesia de Santana, a mais antiga de Angra dos Reis, e ao antigo cemitério da localidade. Em 2001 uma barqueata chamava a atenção para o conflito declarando “queremos nossas praias, costões rochosos e trilhas livres de cercas, muros, seguranças e construções irregulares”.
Outra ameaça ao traçado das trilhas e acesso às praias da Ilha Grande foi a tentativa, em 2016, do governo do Estado do Rio de Janeiro de implantar uma Parceria Público-Privada (PPP) para a gestão do Parque Estadual da Ilha Grande (PEIG). A proposta assustou moradores e mobilizou lideranças sociais gerando um clima de desaprovação da população nas audiências públicas promovidas na Câmara de Vereadores de Angra dos Reis. Diante dessa resistência, o governo estadual desistiu de entregar a gestão de todo o PEIG à iniciativa privada.
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