Energia para um Brasil sustentável

A SAPÊ comemorou seus 20 anos de fundação, em 2003, com o evento “Energia para um Brasil Sustentável”. A programação contou com um seminário sobre o uso de fontes renováveis na matriz energética brasileira, exposição com fotos e reportagens da trajetória da SAPÊ e show-protesto contra a construção da usina Angra 3. 

O seminário traçou um panorama do uso e perspectivas da utilização de energias limpas e renováveis para tornar nossa matriz energética mais sustentável em contraposição ao modelo energético adotado e à manutenção do uso da energia nuclear no país. Nesse sentido, fortaleceu a articulação de apoios e parcerias da campanha  “Angra 3 Não!”, com o objetivo de impedir a construção da terceira usina nuclear no Brasil. 

Os painéis abordaram  questões técnicas e políticas para que os enormes potenciais identificados para a produção de energia solar, eólica e de biomassa se tornassem significativos na matriz energética. Para isso, apontou-se a necessidade de estabelecer políticas governamentais para redirecionar os investimentos  para a ampliação das linhas de pesquisa, o fortalecimento da indústria nestas áreas e ooferecimento de  incentivos até ganhar escala de mercado competitiva.

Durante três dias, a presença de dezenas de pessoas do poder público local e nacional, professores universitários e de diversas organizações envolvidas com as questões energéticas das várias regiões brasileiras no  Centro Cultural Theóphilo Massad, centro de Angra dos Reis, trouxe o clima do seminário para o cotidiano da cidade. Mais uma vez a Eletronuclear ignorou o convite para participar de um debate sobre a construção de Angra 3 e não compareceu. Essa atitude confirmou odesprezo pelo debate público e o desconforto em discutir a questão com lideranças sociais qualificadas.

Na véspera do encerramento, ocorreram as manifestações contra Angra 3. Em caminhada, os participantes do seminário saíram pelas ruas do centro da cidade carregando faixas e exigindo “Angra 3 não!”, “Energias renováveis e limpas” e o fim das terríveis heranças das bombas nucleares de Hiroshima e Nagasaki e do acidente de Chernobyl. 

O show “Hiroshima Nunca Mais” aconteceu na Praça do Carmo com a presença de artistas e bandas de rock locais abrilhantado pela presença do músico Luís Perequê, de Paraty. Durante a realização, lideranças do “Fórum Brasileiro de ONG’s e Movimentos Sociais”, SOS Mata Atlântica, Greenpeace e lideranças locais reforçaram a importância da adoção de uma matriz energética limpa e renovável e sem herança radioativa e riscos à população.   

A exposição fotográfica e documental dos vinte anos da história da SAPÊ, da luta antinuclear local e de outras bandeiras socioambientais empreendidas no período esteve exibida durante todo o evento. Para montá-la, foi realizado um trabalho de pesquisa de reportagens coletadas em arquivos próprios, de particulares, e, principalmente, junto ao acervo do Jornal Maré. A pesquisa foi coordenada por Nádia Valverde com a participação de jovens e estudantes. Posteriormente, tal pesquisa subsidiou a dissertação de mestrado Meio ambiente, desenvolvimento e democracia: SAPÊ, a difícil trajetória ambientalista em Angra dos Reis de José Rafael Ribeiro. 

O seminário ofereceu hospedagem para os visitantes e alimentação para todos os participantes. O “Grupo de Apoio”, sob a coordenação do sindicalista Jorge Valverde, foi fundamental nessa logística. Foi um momento de encontro e de formação para muitos jovens que, posteriormente, assumiram protagonismo na SAPÊ. 

Vale mencionar que, no primeiro dia do seminário, a usina Angra 1 paralisou sua operação pelo vazamento de radiação do sistema primário para o secundário. Sérgio Dialetachi do Greenpeace declarou que os “inúmeros acidentes envolvendo as instalações nucleares no mundo demonstram o risco que estão sendo expostos às populações dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo”.