As usinas nucleares brasileiras foram implantadas em Angra dos Reis no auge da ditadura militar – final da década de 70 – e sem qualquer consulta à população. O primeiro protesto antinuclear que se tem notícia foi uma bicicleata ocorrida em 1977. Os ciclistas, que vinham do Rio de Janeiro, foram impedidos pelo exército de seguirem até Itaorna, local da construção da central nuclear.
No início dos anos 80, começou em Angra dos Reis o movimento “Hiroshima Nunca Mais” contra a construção de Angra 1 e Angra 2 e pelo restabelecimento do regime democrático. O lançamento das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945, marcou o início da era nuclear, mostrando ao mundo o poder de destruição nuclear e seus horrores. Hiroshima se tornou símbolo da luta antinuclear e pacifista.
O movimento, organizado inicialmente por grupos do Rio de Janeiro, foi acolhido em Angra dos Reis por grupos culturais e ativistas locais, culminando em 1983 na fundação da SAPÊ. Desse contexto de efervescência político-cultural foi fundado o Partido dos Trabalhadores (PT) no município, rearticulado o Sindicato dos Trabalhadores Rurais e formado o COMAM (Conselho Municipal de Associações de Moradores).
Os “Hiroshima Nunca Mais”, na década de 80, tornaram-se eventos que reuniam milhares de pessoas num clima de irreverência e protestos. A cidade recebia caravanas de todo país que se juntavam “para se opor com firmeza, mas com alegria, à toda parafernália de morte, opressão política e devastação ecológica que ameaça a vida no nosso País e no resto do planeta”. Com forte expressão artística e cultural, o movimento mesclava debates com desfiles lúdico-macabro-musical, alas temáticas e fantasias, shows musicais, teatro, poesias e brincadeiras para crianças. Reunia, além de grupos locais como a Banda Sarico, artistas de expressão nacional como Lucélia Santos, Zezé Motta, Jorge Mautner, Alceu Valença, Joyce, Grupo de Teatro Tá na Rua, entre outros.
O desastre nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, antiga União Soviética, em abril de 1986, elevou a pressão antinuclear e paralisou a construção de Angra 2. Nesse contexto, em 1987, a SAPÊ realizou um plebiscito sobre a questão com 6.175 pessoas, das quais 5.927 votaram contra as usinas nucleares.
Com o passar do tempo, as manifestações perderam ânimo. Houve certo acomodamento da população local ao convívio com as usinas e uma desmobilização nacional em relação à questão nuclear em função da reabertura política e de novos campos de atuação e luta social. Além disso, antigas lideranças nacionais e mesmo ex-dirigentes da SAPÊ passaram a apoiar a construção e o funcionamento das usinas nucleares no município, como na retomada da construção de Angra 2, em 1994, numa gestão municipal petista ou na aprovação da construção de Angra 3 no governo do Lula, que teve como Ministro do Meio Ambiente o Deputado Carlos Minc. Ambos estiveram, em 1989, durante visita a Angra dos Reis, num Hiroshima Nunca Mais e Carlos Minc teve destacada atuação no movimento antinuclear.
Os eventos “Pela Vida Pela Paz: Hiroshima Nunca Mais” continuam sendo realizados, com maior ou menor frequência pela SAPÊ. Nossa entidade mantém-se firme (e alegre) na luta antinuclear, buscando na arte uma aliada de sensibilização e comunicação com a população. Envolvendo os parceiros locais e externos, sempre oferecendo um contraponto ao discurso hegemônico. Nosso objetivo é aumentar a consciência social em torno dos perigos e das falácias propagadas pela indústria nuclear e incentivar a participação popular no debate.
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